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Em Arquitetura Inclusiva (veja mais 56 artigos nesta área)

por Arqª Ana Lúcia Góes M. Barbosa

Espaços edificados para o idoso: condições de conforto.



O fenômeno do envelhecimento populacional tem sido bastante divulgado nesses últimos anos pelos diversos veículos de comunicação. Paralelamente a isso, o tema do idoso vem sendo incorporado às mais variadas linhas de pesquisa, interferindo na atuação de distintos profissionais que buscam atender às novas exigências deste mundo que envelhece.

A velhice pode ser avaliada como algo bom ou ruim: questão polêmica numa avaliação pessoal. Visto pelo prisma do otimismo, podemos afirmar que é um avanço, afinal a maioria das pessoas prefere viver mais a viver menos. A longevidade é uma conquista da humanidade, um resultado positivo e evidente do crescimento econômico e do desenvolvimento tecnológico ocorrido no século 20. Mas é preciso aprender a lidar com a nova situação.



É comum a associação do idoso ao ser decadente, à fragilidade, a doenças, remédios, aposentadoria e até mesmo a morte. Entretanto, o aumento significativo desta camada populacional atinge não só aos profissionais da medicina, nutrição, farmácia e psicologia, mas também as áreas tecnológicas e a todo cidadão, ainda que seja de uma forma menos direta.

Este progressivo aumento da população idosa em todo o mundo implica numa revisão de conceitos e aprimoramento profissional, às vezes de maneira bastante clara e objetiva, como no caso da geriatria, e outras vezes de uma forma menos evidente, porém determinante, quando, por exemplo, passa a interferir no dia-a-dia dos profissionais da economia, política, administrativa, comércio, turismo, moda e tantos outros.

As conseqüências do envelhecimento populacional também repercutem na área da construção civil. Arquitetos, urbanistas, designers de interiores estão sendo obrigados a se adequar a este novo quadro populacional, a fim de responderem aos anseios dos cidadãos da 3ª idade e contribuir para um panorama arquitetônico mais humano, acessível ao maior número de pessoas possível.

O principal objetivo do arquiteto, visto dentro de uma abordagem genérica da arquitetura, é a satisfação dos usuários nos espaços edificados, provendo o conforto, segurança e bem estar no uso funcional dos ambientes planejados. Ora, se nos encontramos diante de um perfil de usuários mais maduros e com perspectivas de se tornarem ainda mais numerosos nos próximos anos, é sensato que as mudanças na área da arquitetura ocorram desde as práticas do ensino aos alunos de graduação, passando por todas as etapas de projeto e construção, definição do layout e escolha de mobiliários próprios.

A arquitetura no Brasil passa por um período de marcantes alterações que podem ser observadas nas normas técnicas, na concepção arquitetônica e construções de modo geral. Seria injusto afirmar que na arquitetura contemporânea nada se foi feito em prol do conforto, do bem-estar e da inclusão social, entretanto o caminho da chamada arquitetura inclusiva ainda é bastante longo.

O acelerado crescimento das cidades e a falta de consciência dos projetistas, construtores e da própria população são responsáveis por esse resultado freqüentemente inadequado as necessidades diversificadas. Alterar esta situação significa romper inicialmente com a barreira do preconceito e da visão de um modelo arquitetônico já ultrapassado.

No caminhar desta grande conquista que é a arquitetura inclusiva, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) revisou recentemente suas recomendações para fins técnicos de dimensionamento dos espaços ampliando a abordagem da acessibilidade. A revisão da NBR 9050, norma técnica para projetos arquitetônicos e urbanos, demonstra uma maior conscientização da importância da inclusão social, entretanto, para que os resultados sejam positivos, é necessário que haja também a devida aplicação e fiscalização destas recomendações registradas na norma, bem como um planejamento municipal de acessibilidade.

No estudo da arquitetura inclusiva é de fundamental importância que sejam consideradas a avaliação do conforto ambiental e a acessibilidade nos espaços construídos. Para tanto é necessário conhecer a definição destes termos.

Acessibilidade

A acessibilidade almejada visa atender a todas as pessoas nos diversos tipos de edificações, independente de suas condições físicas limitadas ou fora do “padrão” estabelecido por uma escala humana desejável. Habitações unifamiliares, moradias coletivas, edificações comerciais, edificações de uso público e seus respectivos arredores urbanos devem ser planejados de modo que o maior número possível de pessoas possam se deslocar com segurança, utilizar os equipamentos e participar efetivamente das atividades.

São várias as razões que reforçam a importância do planejamento arquitetônico acessível. Entre tantas, podemos citar pesquisas que mostram o grande o número de pessoas que são obrigadas a se mudar de domicílio por causa da inadequação dos espaços as suas reais necessidades. A mudança de domicilio para os idosos algumas vezes pode ser traumática. As reformas para eliminação das barreiras físicas acarretam transtornos a vida diária e representam gastos aos proprietários muito superiores aos custos de execução de obras com o planejamento adequado de acessibilidade.

Acidentes provenientes de projetos inadequados posteriormente acarretam gastos com hospitalização e previdência, portanto os projetos acessíveis, mesmo que aumentem o custo final da construção, este acréscimo será compensado com uma economia a médio e longo prazo para o governo e para o cidadão.

Numa conceituação mais técnica, o termo acessibilidade é definido pela NBR 9050 como “a possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos”. Já é um grande avanço a indiscriminação deste termo que outrora era visto como uma necessidade exclusiva dos portadores de deficiência física. Hoje se sabe que a acessibilidade é um elemento facilitador na vida de todos e extremamente necessário para os que se apresentam em condições mais limitadas, com mobilidade reduzida, ainda que temporariamente.

A busca da acessibilidade nas edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos envolve uma série de ajustes a serem realizados nas edificações existentes e na reformulação de critérios relativos ao ordenamento de prioridades pertinentes a etapa de definição do partido arquitetônico. Ou seja, a arquitetura e o arquiteto são convidados a uma “reviravolta de ponta a cabeça”, mudando radicalmente seu rumo na história.

Chegamos num ponto em que não dá mais para fechar os olhos para os itens necessidades e funcionalidade pondo o elemento estético em plano superior. O mau uso da tecnologia e a preferência pelos designers inapropriados ao atual perfil humano geram este desajuste entre o homem e o seu meio ambiente, que se traduzem em problemas de acessibilidade.

Conforto

O conforto ambiental nos ambientes construídos contribui para o bem estar, saúde física, equilíbrio mental e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Para o leigo em arquitetura, o conforto é comumente associado a uma condição privilegiada das classes sociais mais altas, caracterizada pelos amplos espaços disponíveis, mobiliários sofisticados, uso do ar condicionado e sistemas de controle avançados. Entretanto, o conforto não deve ser uma preocupação exclusiva dos projetos direcionados ao luxo.

O planejamento dos espaços edificados, mesmo se tratando de habitações de interesse social para as classes mais baixas, deveria atender aos quesitos mínimos de conforto. Todo indivíduo, independentemente da sua idade, necessita de conforto em sua moradia.

Em bibliografia especifica, Olgay define o conforto variável segundo uma série de fatores que se dividem em dois grupos básicos: cultural e fisiológico. No grupo cultural incluem-se os fatores de ordem moral, social e histórica. No fisiológico, estão os fatores geológicos, luminosos, térmicos, espacial, de movimento e geográfico. Estes elementos ainda passam por outros fatores limitantes: econômicos, necessidades físicas e necessidades emocionais.

Neste texto, o conforto do idoso é abordado genericamente sob o ponto de vista higrotérmico, relativo a satisfação do homem com as condições de umidade e temperatura ambiente; lumínico, resultado da luminosidade local; acústico, com respeito à qualidade sonora, minimizando ruídos e ecos; e antropodinâmico, que se refere aos movimentos requeridos pelas diversas atividades humanas.

Numa visão menos técnica, o conforto é avaliado de maneira subjetiva. Podemos assim dizer que os fatores fisiológicos e culturais variam com a idade, interferindo na sensação individual do conforto. Embora se trate de um assunto ainda pouco explorado em pesquisas, algumas relações entre o fator idade e níveis adequados de iluminação, audibilidade e de conforto térmico já se esboçam. Verifica-se através de gráficos produzidos pelas pesquisas afins que a idade pode efetivamente modificar de maneira drástica as necessidades específicas em termos qualitativos e quantitativos.

As limitações decorrentes do processo do envelhecimento podem ser de ordem:

· sensorial (redução visual, auditiva, fala e tátil),

· locomoção, equilíbrio/coordenação motora (diminuição da força muscular, reflexos, alcance e manuseio de objetos, problemas ósseos, uso de bengala, andador, cadeira de rodas, prótese),

· cognitivos (redução na capacidade de receber e processar a informação, dificuldade de concentração, percepção e memória)
.

Dentro da diversidade humana ainda devemos considerar os casos de restrição temporária ou momentânea, tais como: período de tratamento ou pós cirurgia, mulheres grávidas, pessoas portando crianças no colo ou transportando carrinhos com bebê, etc.

Sob o aspecto do conforto higrotérmico, ou seja, o bem estar do homem com relação à temperatura e umidade no seu ambiente, verificam-se alguns pontos particulares relacionados ao envelhecimento. Com a idade, as atividades e o metabolismo humano se reduzem, há uma diminuição na quantidade de água nos órgãos e na pele, o que faz o idoso sentir mais frio do que quando jovem. Isso justifica as atitudes instintivas e culturais tão comuns entre os mais velhos, tais como: curvar o corpo, diminuindo a área de exposição da pele; esfregar as mãos ou colocá-las nos bolsos; usar casacos ou roupas de lã quando aparentemente não é necessário.

Enquanto a pele de um adulto jovem e saudável é capaz de detectar uma queda de temperatura de até 0,5º C no ambiente, esta sensibilidade diminui gradativamente no idoso, de tal maneira que é possível que ele não perceba, por exemplo, uma queda de 5º C na temperatura. Assim, tendo maior dificuldade em se adaptar às variações de temperatura e de perceber que seu corpo está excessivamente frio ou quente, se expõe a hipotermia ou a hipertermia. Em locais quentes como o Rio de Janeiro é comum a hipertermia, com o idoso desidratando-se por permanecer suando por muito tempo sem se dar conta.

No aspecto do conforto visual e lumínico, os idosos necessitam de maior nível de iluminação na área de execução de suas tarefas. Os contrastes de cores entre paredes, pisos e objetos devem ser otimizados para auxiliar na identificação dos mesmos. Por serem mais sensíveis ao ofuscamento e requerem mais tempo de adaptação as mudanças repentinas de luminosidade, deve-se ter o cuidado de evitar estes desconfortos.

O conforto acústico também sofre alterações com a idade. Há uma perda auditiva gradual e bastante considerável, principalmente nas freqüências altas, correspondentes aos sons agudos. Esta perda ocorre em maior grau nos homens do que nas mulheres e representa uma redução na inteligibilidade da fala.

O conforto antropodinâmico é um assunto que vem sendo bem explorado em pesquisas, das quais resultaram novas diretrizes de projeto e realizações de propostas mais acessíveis. Como exemplos destes resultados, podemos citar os critérios do Desenho Universal, conhecido internacionalmente como Universal Design, que visa atender a maior gama possível de usuários; e recentemente a atualização da NBR 9050, demonstrando uma mudança de paradigmas. Ambos contribuem para a inclusão social das pessoas.

Estas considerações são desconhecidas pelos arquitetos de modo geral e mediante ao envelhecimento populacional deverão fazer parte do rol de informações para que tenhamos espaços edificados mais adequados.

De maneira geral, o ser humano com a idade se torna menos tolerante e menos adaptável às variações climáticas, a ambientes mal iluminados, a espaços ruidosos e reverberantes do som. Como recomendações genéricas de conforto para o idoso nos espaços edificados, podemos citar:

· A paisagem, as cores, os brilhos e as áreas verdes são importantes para o equilíbrio físico e emocional. O contato diário com a natureza, o ar mais puro, a exposição controlada ao sol, o espaço para caminhar, exercitar, conviver com pessoas e animais, são de enorme efeito na saúde, ainda que difícil de se quantificar este benefício.

· A criação de espaços alternativos na área externa da casa, com sol (pátios e jardins) e sombra (varanda e espaços arborizados) aumentam as chances de se encontrar um local confortável nos diferentes horários e épocas do ano. Devido à redução da capacidade de adaptação as variações de temperatura, estas opções são mais importantes para os idosos.

· Ambientes internos de longa permanência como os quartos, por exemplo, merecem especial atenção quanto a temperatura, iluminação, condição acústica e qualidade do ar.

· Na questão do dimensionamento e da acessibilidade, o projetista pode recorrer as recomendações da norma NBR 9050/2004, bem como as propostas do Universal Design, sempre atento às particularidades de cada situação. É importante também a conscientização do público em geral para suas reais necessidades e seus direitos como cidadãos.

· Internamente, os espaços devem ser amplos, livre de obstáculos físicos nos caminhos, com devido isolamento aos ruídos inconvenientes, muito bem iluminados, com entrada de luz natural e ventilação reguláveis, sempre que possível, pelo próprio idoso.

· É necessário que os objetos de uso cotidiano estejam bem visíveis e de fácil alcance: interruptores, tomadas, campainhas, telefones, interfones, controle remoto, fechaduras e acionamentos em geral
.

Algumas conclusões

A adequação dos espaços a diversidade humana, a fim de se incorporar os princípios da equidade dos direitos de participação de todos, não é uma tarefa fácil, visto que não foi devidamente considerada nas décadas passadas. Vivemos cercados de edifícios e de ruas com inúmeros obstáculos físicos impróprios para a circulação e utilização autônoma de grande contingente populacional.

Além das barreiras econômicas que o homem enfrenta quando ao buscar usufruir os espaços construídos ou não, as barreiras arquitetônicas, urbanas e atitudinais somam obstáculos ao nosso dia a dia juntamente com a barreira do preconceito, tão difícil de ser superada. Muitos arquitetos são movidos pelo preconceito estético e por uma idéia errônea de funcionalidade; construtores, por sua vez, procuram seguir a um modismo, produzindo edificações padronizadas para um “homem médio” e atendendo a uma demanda consumidora que sonha com um estilo de vida irreal, que será inadequado ao longo de sua vida. Eis um ciclo vicioso a ser rompido.

A tecnologia dos novos materiais de construção pode e deve ser aproveitada pelo homem, mas não com o intuito de envaidecer o criador e o possuidor da edificação. O arquiteto pode ser criativo mesmo quando torna os aspectos da acessibilidade, funcionalidade e conforto em itens prioritários, pois a adequação dos espaços construídos não implica necessariamente na desvalorização da arte.

A arquitetura no Brasil vive hoje num período de grandes desafios, conduzindo o arquiteto ao aprimoramento profissional, a percepção da diversidade humana, a interpretação de um todo e ao uso da sua criatividade.




Ana Lúcia Góes M. Barbosa Arquiteta, mestra em Arquitetura (PROARQ,FAU/UFRJ). Autora da tese: Conforto e Qualidade Ambiental no Habitat do Idoso. Co-autora do livro: A nova velhice - uma visão multidisciplinar.




Fonte:www.portaldoenvelhecimento.org.br




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