Terça-feira, 19 de Março de 2024
Sempre acreditei que professores de Matemática nunca fossem seduzidos por ofertas ilógicas e impossíveis, até quando aconteceu exatamente isto comigo. Tenho inclusive a responsabilidade, perante a Revista do Professor de Matemática, de contar casos e histórias sobre aspectos humanos da rainha das ciências. Acreditem ou não a história que se sucede aconteceu comigo em 2.001.
Antes de mais nada, vejamos:
O convite
No prédio em que moro muitos sabem que sou engenheiro e alguns sabem que sou ligado à Matemática. Apesar disso recebi um convite para ir a noite no apartamento de um vizinho para receber uma proposta irrecusável que permitiria até trocar de carro e conseguir outras sonhadas vantagens das pessoas abonadas. Claro que fui à reunião, na ânsia de finalmente sair do aperto nesta época de crise.
Fui muito bem recebido nesse apartamento com direito a cafezinho e tudo mais e ouvi uma previsão e uma proposta:
A - Você (eu) vai ficar rico e deixar um dispositivo de renda permanente para seus filhos e netos,
B - Basta entrar no Sistema de Ouro (o nome comercial é outro...)
Quanto ao item A, nenhuma dúvida, pois bem que o mereço e almejo. O importante é o item B, ou seja entender como participar do tal Sistema de Ouro.
É simples -- disse o meu anfitrião -- e explicou:
• Você paga três mensalidades iniciais , cada uma de R$ 200,
• A partir dai você continua a pagar mensalidades de R$ 100, mas sem preocupação, pois o próprio sistema propiciará os recursos para pagar essa mensalidade,
• Você pode participar de um seguro de vida em grupo totalmente pago com os recursos advindos do seu trabalho para o Sistema de Ouro,
• Você pode ingressar num Fundo de Ações do Sistema de Ouro, com contribuições totalmente pagas com recursos advindos do Sistema de Ouro,
• Você só tem que ir arrumando novos participantes para o Sistema de Ouro, sendo que metade do que for arrecadado de cada novo sócio, permanentemente irá para você (eu).
A sedução
De imediato achei a idéia maravilhosa e totalmente exeqüível do ponto de vista lógico e matemático e principalmente comecei a sonhar com as maravilhosas conseqüências de tudo funcionar bem. Bastaria eu ir vendendo a outros a idéia da entrada no Sistema de Ouro que tudo aconteceria. Eu ganharia metade das contribuições dos sócios que arrumasse e os meus sócios ampliariam a rede .1
Vendo o meu entusiasmo o anfitrião abriu uma pasta preta e já foi preenchendo uma ficha de inscrição e para minha alegria ainda alertou :
E ainda seguramos um pouco seus chequinhos e semana que vem, você, agora já sócio do Sistema de Ouro, pode sair fazendo reuniões iguais a essa. Talvez você comece a já receber antes de pagar...
O alerta
Já estava procurando o meu talão de cheques quando Walda -- minha esposa -- alertou, para tristeza geral:
-- Meu bem, seu talão de cheques ficou em casa. Vamos lá buscar e voltar rapidinho...
Percebi algo no ar e para contrariedade do anfitrião saí em busca do talão de cheques. Chegando em casa minha esposa alertou-me com a característica desconfiança feminina:
-- Se um negócio é bom, consulte antes o travesseiro.
Assim fiz e não voltei ao apartamento onde quase se iniciou minha caminhada triunfante com direção à fortuna. Durante a noite ouvi os conselhos e ponderações do travesseiro, associados com o relaxamento de um bom banho matutino.
A verdade se esclarece
Para minha surpresa depois do banho e do café matinal tudo se esclareceu. Eu tinha sido convidado na noite anterior na verdade para entrar numa corrente da felicidade, prática enganosa e proibida por lei. Vejamos as conclusões a que cheguei após mais alguns dias de raciocínio:
1 - Eu teria que pagar inicialmente três prestações mensais de R$ 200 e depois e eternamente e enquanto ficasse dentro do Sistema de Ouro, prestações mensais de R$ 100. Se eu no futuro deixasse de pagar as prestações eu seria excluído do sistema e deixaria de receber os frutos dos pagamentos dos sócios que levei ao sistema e que estavam pagando todos os meses suas eternas contribuições individuais de $ 100,
2 - A história de que eu não deveria me preocupar com os pagamentos mensais futuros de R$ 100, pois eles seriam pagos com os frutos do meu trabalho, é de uma enganação total, pois raciocinemos que todos os meus futuros pagamentos (água, luz, condomínio etc.) são seguramente pagos com os frutos dos meus trabalhos futuros,
3 - Quanto ao seguro de vida totalmente pago com as rendas do meu trabalho futuro vale o mesmo raciocínio. Qualquer seguro de vida que eu venha a fazer no futuro eu sempre pagarei com o rendimento dos meus trabalhos futuros,
4 - Quanto ao fundo de ações totalmente pago com os frutos do meu trabalho futuro, idem .
A essência da questão, ou seja, a dúvida raiz é: conseguirei eu arrumar daqui para diante novos sócios para entrar no sistema e os sócios que eu arrumar conseguirão permanentemente arrumar novos sócios e assim por diante???????
Lembrar que há a mensalidade permanente de R$ 100 que deve ser paga por mim, pelos sócios que eu arrumar e pelos sócios que os meus sócios arrumarem.
O sistema que eu criaria seria uma corrente, ou seja uma progressão geométrica (portanto multiplicativa) com quociente digamos, dez, ou seja ela cresce exponencialmente. A partir do momento em que a corrente, na prática, esgote o mercado, os sócios digamos do terceiro nível deixam de arrumar novos sócios e com isso deixam de pagar. Se os de terceiro nível deixam de pagar os de segundo nível deixam de receber e portanto deixam de pagar sua mensalidade implacável.
Com isso os de primeiro nível (estou ai por hipótese) não terão renda ou justificativa para manter o pagamento de R$ 100 mensais. Deixarão (deixarei) de pagar a mensalidade e sairão do sistema. Para o Sistema de Ouro que recebe metade de tudo arrecadado o lucro é enorme, gigantesco. Para quem mora em megacidades como S.Paulo parece impossível um mercado se esgotar mas ele se esgota indiscutivelmente e rapidamente face ao crescimento geométrico.
O caso emblemático da cidade de Erechim, RS
Sai a contar esta história para amigos e soube um fato interessante acontecido na cidade de Erechim, RS. Erechim é uma típica cidade do interior gaúcho e tem algo como 100.000 habitantes. Lá todos se conhecem em função de alguns fatores de aglutinação social, a saber: as igrejas, os clubes de boliche e as atividades profissionais. Ninguém é solitário ou desconhecido nessa cidade. Um dos três fatores aglutinadores sempre envolve a pessoa.
Um dia, uma corrente da felicidade (existem várias) chegou na cidade fazendo suas reuniões iniciais num clube de boliche. Foi um sucesso inicial e após alguns meses toda a cidade falava da corrente e das futuras retiradas financeiras. Só que após esses meses bastava ligar para alguém de Erechim para ir a uma reunião, que muito prometia financeiramente, que se ouvia de resposta:
-- você não vai me convidar para uma reunião da corrente, vai? Eu já sou sócio e não estou encontrando ninguém para ser novo sócio... Aqui em Erechim as pessoas ou são sócias ou já foram procuradas para ser sócias e não tem interesse em entrar...
No caso de Erechim a progressão geométrica chegara ao fim e como todos se comunicam entre si nessa cidade, todos ficaram sabendo que muitos ficaram com o mico na mão, poucos ganharam pouco e o implantador do sistema muito ganhara...
Numa cidade como S.Paulo isso também ocorre mas como a cidade não se comunica entre si o fato não fica público como deveria e as correntes sobrevivem ou desaparecem .
A fenix
Apesar de tudo, periodicamente este sistema volta sempre, com novos nomes e alimentado pelo sonho do lucro fácil e pela hipótese (de má fé) que talvez a corrente esteja no começo e talvez eu leve vantagem .
Epílogo
Não entrei na corrente, deixando assim de pertencer a tão empolgante Sistema de Ouro.
Moral da história
Meu amigo. Se você for convidado para ficar rico bastando criar uma rede de sócios ou vendas (há várias formas para iludir os incautos) pense no que este artigo conta. As progressões geométricas são implacáveis....
Conclusão
Não será por esse caminho que trocarei meu carro...
Texto publicado sob permissão do autor:
Manoel Henrique Campos Botelho Eng. Civil e autor do livro Concreto Armado Eu Te Amo Email: manoelbotelho@terra.com.br Cx. Postal 12.966 -- CEP 04009-970 -- S.Paulo SP |
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