Terça-feira, 19 de Março de 2024
Aconteceu algumas dezenas de anos atrás. Tinha sido contratado por uma firma de engenharia para dirigir o projeto de uma potente casa de bombas que retiraria água do mar recalcando-a para atender às necessidades de resfriamento de uma siderúrgica. Fui contratado para dirigir e não para desenvolver partes técnicas do projeto, para o que havia, ou melhor, deveria haver e na prática não havia uma equipe de projetistas.
Tão logo assumi a direção notei que na firma não havia um profissional que cuidasse da parte do sistema de combate a incêndio para a elevatória. Esse assunto de combate a incêndio era de meu domínio, sendo Engenheiro Civil Hidráulico, mas o que me deixou preocupado é que as atividades de direção do empreendimento impediam-me de assumir essa tarefa técnica.
Tentei contratar um colega, mas o prazo de entrega dos documentos era tão exíguo que seria impossível contratar um engenheiro numa época de muito serviço e poucos profissionais competentes. Eu mesmo teria que tocar o serviço e o único auxiliar que consegui foi um estudante do quinto ano de Engenharia que, apesar de boa formação, tinha um defeito original: não era a escola em que me formei.
Extremamente preconceituoso, eu achava que fora da minha escola de engenharia pouca coisa poderia ser esperado. Quanta bobagem e preconceito... Disseram-me que o jovem engenheirando era muito bom, quase brilhante. Decidi ficar com ele e verificar se os elogios eram ou não merecidos.
Para isso eu iria submetê-lo a uma série de situações difíceis ou, como diriam os que gostam de sociedades secretas e misteriosas, eu iria iniciá-lo nos segredos herméticos de Minerva, a linda deusa grega que protege a engenharia.
O jovem futuro colega veio para seu primeiro dia de trabalho comigo e cumpriu a primeira condição: ele me trataria com o título de “Senhor Doutor Engenheiro”, mesmo não sendo eu doutor, mas era uma forma de mostrar o que ele deveria esperar. Ele iria viver a experiência de ser um fiel e obediente discípulo que serviria um mestre. Começou a iniciação quando eu dei a primeira tarefa:
-- Para você começar deve me trazer amanhã um exemplar do mais sagrado dos livros da engenharia, só que eu não posso dizer que livro é esse. Seu processo de amadurecimento exigirá que você mesmo descubra e não se incomode com os erros que fará nessa busca do ”santo sagraal“. Assim é a iniciação na engenharia...
O coitado saiu aturdido com a missão e no dia seguinte trouxe-me, algo trêmulo, um livro de Análise Matemática e Cálculo Diferencial e Integral do conhecido autor “Courant”. Assim respondi:
-- Jovem. Esse não é o livro mais sagrado da engenharia, mas seu pecado foi apenas venial, aceitável. Se o seu mestre fosse discípulo do saudoso Prof. Camargo e se você tivesse trazido o livro do Granville eu o demitiria “ad nutum”... Terás direito pois a uma segunda chance. No dia seguinte o coitado trouxe-me um segundo livro e balbuciou:
-- Mestre. Eis uma velha edição do livro de “Resistência dos Materiais” do Timoshenko em tradução do respeitado Prof. Noronha. Se esse não for o livro sagrado da Engenharia que livro poderá ser?
Confesso que ao ver o livro do Mestre Timoshenko, o Engenheiro do Século XX, tremi mas não cedi e continuei o processo de iniciação:
-- Esse livro seguramente é um livro sagrado, tão sagrado como o Courant, mas não é o mais sagrado dos livros. O mais sagrado dos livros está junto a cada um de nós e não percebemos. Mas chega de iniciação. Eu te apresentarei ao mais sagrado dos livros e principalmente te contarei o que nem nele e em nenhum outro lugar está escrito, ou seja, como fazer sua exegese, como interpretá-lo e tirar dele os melhores ensinamentos.
O jovem profissional estava ansioso e eu logo apresentei o livro, pois com todo esse treinamento uma coisa não estava sendo feita, o projeto do sistema hidráulico de combate a incêndio da elevatória. Assim fui até a mesa do telefone e peguei o livro sagrado da engenharia -- a lista de telefones classificada, aquela amarelinha, e comentei:
-- Não há engenharia sem fornecimento de material ou equipamentos. Você deve aprender a usar o livro mais usado da engenharia que é a lista telefônica classificada de fornecedores...
O coitado do engenheirando estava atônito. Nunca tinham dito a ele que uma prosaica lista telefônica fosse um livro sagrado. Mas prestem atenção à aula que dei a ele de como fazer a exegese do texto sagrado e como tirar dela os melhores frutos. Regras:
1) Baseado na lista amarela faça a listagem dos fornecedores de equipamentos de combate a incêndio;
2) Peça catálogos a todos e depois de receber os catálogos estude-os;
3) Estude em outros livros, normas e artigos técnicos procurando ficar em dia com o estado da arte;
4) Depois de tudo isso e com base no material recebido faça um ranking de todos os fornecedores, começando dos piores aos melhores;
5) Entre em contato inicialmente com aquele fornecedor pior qualificado, chame um vendedor técnico e com ele abra o jogo. Declare a verdade, que você nada sabe de combate a incêndio e que precisa comprar. Atenção: use sempre o verbo comprar, um sistema e que para isso você precisa entender como as coisas funcionam. Você ficará surpreso com o que o vendedor técnico lhe ensinará, pois eles são treinados para mostrar e convencer;
6) Chame agora o segundo pior fornecedor e faça a mesma coisa,sempre avisando do seu despreparo no assunto. Esse aviso é fundamental para deixar o vendedor bem a vontade e com isso a conversa corre solta;
7) Chame agora o terceiro pior fornecedor, converse com o vendedor técnico, verá que sua conversa já será algo diferente, e você pode dizer que entende muito pouco do assunto combate a incêndio. Você notará que já dará para dialogar com o vendedor;
8)Volte agora aos livros, normas e regulamentos. Você notará que numa segunda leitura muita coisa antes pouco compreensível agora ficou clara;
9)No processo de ir chamando progressivamente dos piores para os melhores você deve guardar as três firmas que melhor lhe impressionaram pelos catálogos para com eles ter a batalha final.
Comentários ao texto
Um pequeno comentário à interessante crônica do Prof. Botelho. Evidentemente, ela foi escrita, como diz o texto, há algumas dezenas de anos, ou seja, antes da Internet. Atualmente a pesquisa citada para ser feita na lista telefônica pode e deve ser feita principalmente pela Internet, mas ainda há muitas cidades do Brasil onde grande parte dos fornecedores não tem site e muitas vezes nem endereço de e-mail. Eu, pessoalmente, entendi perfeitamente o que o Prof. Botelho procurou dizer, pois antigamente era importantíssimo fazer uma pesquisa nas Páginas Amarelas, que era o nome que dava então à lista telefônica classificada por setores empresariais. Já fiz muita pesquisa desta forma e endosso inteiramente o texto, ressaltando, novamente, que isto se deu há muitos, muitos anos... (Nota pelo Arq. Iberê M. Campos) |
Texto publicado sob permissão do autor:
Manoel Henrique Campos Botelho Eng. Civil e autor do livro Concreto Armado Eu Te Amo Email: manoelbotelho@terra.com.br Cx. Postal 12.966 -- CEP 04009-970 -- S.Paulo SP |
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