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O Goethe-Institut organizou a exposição “Ready to take-off – Arquitetura Alemã de Exportação”, para participar da 7º Bienal de Arquitetura de São Paulo.
Um dos participantes é o escritório Behnisch Architekten. David Cook concedeu uma palestra “en petit comité” na “La Lampe”
(curadoria da Andréa Magalhães) para explanar o conceito dos seus greenbuildings, apoiados na sustentabilidade. Afirmou, porém, que NÃO há (ou se houver, eles não se inserem no grupo) uma Arquitetura de Exportação. Sua defesa:
It is quite difficult for me to narrow this discussion down on the sole aspects of the so-called architecture for exportation. In our opinion, there is no such thing as German architecture for exportation.
So, maybe it exists, but NOT in our work. We do not design for export, we design for the location in the cultural, climatic, topographic, geographic and geological context.
Vou “botar fogo” nesta discussão, afirmando que existe SIM, e, quando existe, ela não é de “menor qualidade” dos que não a praticam.
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Neutelings Riedjik ,“5 Sfinxen Housing” em Huizen, Países Baixos, 2000-03. Cada um dos blocos vai se estreitando em direção às águas para oferecer as melhores vistas do lago Gooimeer.
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Para início de conversa, vamos refletir sobre a questão:
Qual é a função do ARQUITETO?
O ARQUITETO busca a melhor maneira de solucionar o espaço arquitetônico (iluminação, ventilação, circulação), sempre preocupado com seu entorno; une forma e função na proporção estética interior x exterior, dentro do contexto orientação geográfica, condições climáticas e topografia; equilibra texturas e cores de novos materiais, muitas vezes utilizando-os de maneira não tradicional. Sem contar os conhecimentos prementes de ecologia e arquitetura auto-sustentável. Tudo isso dentro de uma “idéia” original, é claro!
Perante tantos requisitos, por que milhares de (ótimos) arquitetos das mais diferentes nacionalidades teriam um único percurso a trilhar?
O conhecimento tecnológico e artístico que eles devem absorver habilita-os a optar entre diversos caminhos.
Passemos então à análise histórica de DUAS FILOSOFIAS antagônicas, com origens no séc. XX:
REPLICANTES X SITE-SPECIFICS
1 - O “Estilo Internacional” dominou a Arquitetura nas décadas de 1920 e 1930. Os princípios do seu design constituem parte da estética do Modernismo: o ornamento é crime, verdade nos materiais; formas cúbicas em plantas retangulares e fachadas com ângulos de 90°; "form follows function"; e a descrição de Le Corbusier das casas como “machines à habiter”.
Tinham como paradigma que a solução arquitetônica era indiferente ao local e clima e por isso mesmo foi batizado de “Internacional”.
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Mies van der Rohe e Philip Johnson,“Seagram Building” em Nova York, 1958. Um dos melhores exemplos do Estilo Internacional, estética dominante na arquitetura corporativa americana.
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O alemão Mies Van der Rohe, seu ícone, desejou que o movimento marcasse a Arquitetura assim como o Clássico e o Gótico em suas eras. Trabalhou com simplicidade estruturas de aço aparentes e vidros, definindo espaços austeros, mas amplos e elegantes. Chamava seus edifícios de “skin and bones” e ficou conhecido pelos aforismos “less is more” e “God is in details”.
2 - Em contrapartida, as teorias da “Desconstrução” devem muito ao filósofo Jacques Derrida e ao Construtivismo russo dos anos 20. Seus arquitetos teóricos foram Bernard Tschumi e Peter Eisenman, mas o grande impacto coube à dupla austríaca Coop Himmelblau, que idealizou, em 1984, o que ficou apelidado de “asa ardente” (inspirado no inseto de Kafka), no alto de um imóvel antigo.
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Coop Himmelblau,“Dachausbau” em Viena, Áustria, 1983-88. Um “corpo estranho” implantado sobre uma construção histórica. A busca de uma relação com a esquina e a conexão visual entre o novo telhado e a rua, foram as principais preocupações no projeto - e não a contextualização com o existente.
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Alguma destas duas linhas está errada? Claro que não! Tudo depende do quanto o arquiteto se sente confortável e inserido na concepção e/ou solução arquitetônica perante seu novo desafio. Ainda hoje as duas propostas apresentam (bons) desdobramentos e discípulos:
COMPLEXIDADE X SIMPLICIDADE
O “instante conceitual” de Coop Himmelblau gerou a arquitetura complexa que encontramos no grupo californiano Morphosis e na única representante feminina de grande porte, a iraniana Zaha Hadid. Sem o uso de programas computacionais, muitos destes projetos não poderiam se viabilizar, assim como o projeto "A Onda" do holandês René van Zuuk.
Caminhando contra esta corrente, surge um novo movimento moderno saudado mundialmente: o neo-minimalismo.
Em mais um exemplo dos Países Baixos, na península de Borneo em Amsterdã, foram construídas centenas de casas, como as de Koen van Velsen. Concebidas para espaços exíguos, sua horizontalidade apresenta qualidades quase orientais, com efeitos de transparência e opacidade – o negro marca presença. Poderiam estar inseridas em várias partes do mundo.
Mas é claro que nesse quesito os japoneses são imbatíveis e Tadao Ando a prova mais concreta, com seus projetos silenciosos, onde a luz natural penetra de forma controlada e mágica.
Seu conceito: “As formas que crio alteram-se e ganham significado através da natureza dos elementos (luz e ar), que marcam a passagem do tempo e a mudança das estações”.
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Tadao Ando, “Casa Koshino” em Kobe, Japão, 1983-90. O espaço interior expressivo caracteriza-se pela preocupação com a iluminação e suas nuances. As janelas estão colocadas de modo a proporcionarem apenas uma vista limitada do jardim, mas deixam entrar quantidades generosas de luz, que inundam as superfícies de concreto.
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Aí entra a TERCEIRA FILOSOFIA, mediatriz das outras duas: os escritórios que conseguem um mimetismo incorporando fortemente as culturas locais – com detalhes simbólicos - mas não abrindo mão da alta tecnologia.
GLOCAIS
O termo up-to-date para este conceito no design contemporâneo é “GLOCAL” - mistura a globalização (intercâmbio de culturas e tecnologia) com inspirações da raiz local. Por que não aplicá-lo também à Arquitetura?
Esta metamorfose pode ser obtida através de valores agregados, materiais inusitados ou novas tecnologias.
Valores agregados
Os badalados suíços Herzog e de Meuron (vencedores do prêmio Pritzer em 2001) são os grandes camaleões da atualidade. Conseguem a proeza de projetarem em todos os países, com soluções altamente criativas e diferenciadas como a nova Tate Modern, que surgiu da reforma de uma estação de trem em Londres. Pedras naturais em diversas tonalidades escuras foram os materiais escolhidos para a fachada da adega da vinícola Dominus em Napa Valley, tornando-a quase invisível dentro das cepas. Para o Estádio Nacional de Esportes em Pequim utilizaram uma série de estruturas de aço radiais e foi apelidado de “ninho”
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Não há dúvida que a nova PRADA em Tóquio antecipa o futuro. Os arquitetos suiços Jacques Herzog e Pierre de Meuron presentearam a cidade com um edifício emblemático, destacando-se do comum neste país e seus pequenos espaços públicos.
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Já na PRADA Omotesando, as cordas de aço formam uma trama quadrangular de cristais planos, côncavos e convexos nas empenas, deformando a visão do seu interior. Isto porque no Japão, os arquitetos gostam de criar a ilusão de que o edifício está “envolto” (tsutsumu) ou “atado” (musubu), o que, segundo suas crenças, significa demarcar um espaço como especial ou sagrado. Para mim, especial e sagrada é esta dupla!
Nota: O grande abismo entre a arquitetura brasileira e o restante do mundo é o tempo que possuem para pesquisa. Além disso, o arquiteto é o maestro de uma imensa orquestra de projetos complementares, enquanto aqui cada vez mais suas funções são compartimentadas e reduzidas.
Fonte e artigo completo no site
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