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Hoje nos vemos cercados por vários conceitos ligados ao ambiente construído e à Sustentabilidade, por exemplo: Eco-Arquitetura, Arquitetura inteligente, Bioclimática e Arquitetura Sustentável. Eles surgem da necessidade que o setor tem de atender cada vez mais aos problemas do hábitat atual e contribuir para a cadeia de Sustentabilidade. Por isso, a Arquitetura e a Construção se relacionam cada dia mais com diferentes campos de estudo que privilegiam também aspectos ambientais, sociais, culturais e econômicos. Mas de onde vêm esses conceitos? São sinônimos? Quais suas premissas básicas?

Fig. 1 e 2 – Edifício Corporativo Chileexpress (Chile, Guillermo Hevia) e Museu Quai Branly (França, Jean Nouvel) – Duas funções, dois contextos e diferentes prioridades que se traduzem em duas arquiteturas diferentes. Mas terão o mesmo conceito de projeto?
(Fonte: Revista Plataforma Arquitectura)
Esse artigo busca aclarar quatro conceitos atuais de Arquitetura, ligados entre si, mas que sem dúvida não são iguais. Eles podem sim se complementar, porém cada um deles busca atender suas prioridades mais essenciais de acordo com o contexto. Para compreendê-los é fundamental entender um pouco de onde se originam e o porquê da necessidade desses novos paradigmas.
De onde se originam
O tema da Sustentabilidade surge na década de 60, quando os desastres ambientais e a crise energética começam a gerar uma preocupação mundial com o meio ambiente. Em 1987 é cunhado o primeiro conceito oficial de
Desenvolvimento Sustentável: “é aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”. Paralelo a isso, os profissionais da área do ambiente construído, conscientes do papel dos edifícios no crescimento sustentável, começam a propor novos conceitos de Arquitetura baseados na
Sustentabilidade e o tema chega com maior ênfase no aspecto ecológico e energético. Hoje a Arquitetura já possui seu documento próprio de caráter universal: a
Agenda 21 para a Construção Sustentável e fica claro que a Arquitetura não pode ser sustentável se não prioriza além dos aspectos ambientais também sociais, culturais e locais.
Eco-Arquitetura
Esse conceito se baseia na definição de
Ecologia, que em sentido mais amplo é: o conjunto de todas as interações dos seres vivos uns com os outros e com o ambiente no qual eles vivem. Ou seja, a
Eco-arquitetura considera a edificação como parte da ecologia do planeta e do habitat vivo. Dessa maneira o edifício deve estar em perfeita sintonia com seu meio ambiente natural, causar o menor impacto ambiental possível e preservar os recursos naturais.
E que estratégias tomar para tal? Devemos principalmente relacionar essa edificação com seus aspectos naturais característicos da região – clima, materiais e recursos naturais (água, solo, rochas, energia e vegetação). Para isso são necessárias tecnologias adequadas, como por exemplo:
economia de uso da água (como captação de água de chuva);
uso e produção de energia renovável (como energia solar ou biomassa);
preservação de espécies vegetais nativas;
uso de materiais ecologicamente corretos (por exemplo, madeiras certificadas);
uso de materiais reciclados da região e se possível
reciclar os dejetos produzidos pelo edifício.

Fig. 3 - “Casa-árvore” – assim chamada pelo arquiteto que a projetou, João Diniz. Essa casa sobre palafitas é um ótimo exemplo de Eco-arquitetura. Em área de preservação ambiental na região montanhosa de Belo Horizonte, o arquiteto consegue integrar a casa ao meio ambiente natural, mantendo o perfil do terreno, com declive de 45° e conservando a cobertura vegetal. Mínimo impacto ambiental no meio ambiente.

Técnicas construtivas e materiais naturais também estão dentro dos objetivos da Eco-Arquitetura. Bons exemplos são:
Fig. 4 - Telhado Verde – Uma forma de integração com a natureza. Causa pouco impacto a paisagem, é isolante térmico e ainda tem a possibilidade de captação de água de chuva. (fonte:
www.espiralando.com.br)
Fig. 5 - Tijolos ecológicos de solo-cimento
Arquitetura inteligente e Domótica
Os chamados edifícios inteligentes surgem nos anos 80, da necessidade de conforto e segurança aliado às novas tecnologias que surgiam nesse momento. Estão intimamente ligados ao conceito de
domótica, proveniente das palavras
domus (casa) e
tica (do grego automática). Essa forma de construir não é especificamente ecológica, ou melhor dito, não é seu objetivo. Ela pode ser associada em alguma ocasião à Arquitetura Sustentável por buscar a eficiência energética da habitação. Seu objetivo essencial é o
bem-estar do usuário, priorizando o
conforto ambiental interno,
segurança dos habitantes e
comunicação, através da automação residencial. Para isso se usa a integração das novas tecnologias existentes de eletrônica, eletricidade, informática e telecomunicações.

Fig. 6 - Temperatura, iluminação, dispositivos de segurança, musica e até mesmo aparelhos eletroeletrônicos podem ser gerenciados pelo usuário através de uma central computadorizada na casa.
Arquitetura Bioclimática
A construção B
ioclimática se preocupa mais especificamente com conforto
ambiental interno e
eficiência energética,
que devem ser alcançados através de estratégias naturais, aproveitando ao máximo os recursos naturais de seu entorno de forma racional. Partindo desse principio as principais estratégia podem ser:
Estudo da orientação solar – nos demonstrará as “trajetórias solares”, quais zonas de recepção de mais e menos radiação solar,
luz do céu e
luz do Sol, nos permitindo projetar os desenhos de aberturas e janelas, cores e materiais adequados;
Iluminação natural – pode ser controlada por meio de aberturas (que podem ser: zenitais, pequenos caixilhos, brises soleis, janelas). Tendo em conta que o Brasil é um país tropical com a maioria dos dias de calor intenso, se deve ter cuidado para não criar zonas de
efeito estufa, aproveitando a
luz do céu e não a
luz do Sol;
Ventilação natural – por meio de aberturas, criação de zonas de alta e baixa pressão, induzindo a ventilação cruzada e permitindo a refrigeração de ambientes cálidos;
Isolamento térmico – utilizando materiais isolantes adequados se podem conservar a temperatura do interior por mais tempo;
Com o manejo adequado dessas estratégias se podem evitar o uso de sistemas artificiais de climatização interior como ar condicionado e calefação, alcançando assim a
eficiência da energia.

Fig. 7 - A fábrica Ipel (SP) do arquiteto Sidônio Porto é um bom exemplo de Arquitetura Bioclimática, onde reúne algumas estratégias formais para alcançar o Conforto Ambiental e a eficiência energética.
Fig. 8 - Detalhe da cobertura com sheds que proporciona uma boa ventilação e iluminação naturais, o que dispensa o uso de climatizadores artificiais e iluminação artificial em excesso.
Arquitetura Sustentável
A Arquitetura Sustentável se orienta diretamente pelo Desenvolvimento Sustentável e deve se fundamentar nas mesmas prioridades. Dessa maneira, uma boa referencia é o documento
Agenda 21 para a Construção Sustentável, onde se estabelece que os desafios agora, além de ecológicos, também são atingir gradativamente as metas que se incluem nas dimensões socioculturais na arquitetura e também deve se adequar às necessidades, prioridades e características de cada lugar.
Nós já sabemos que eficiência energética, conservação de energia, redução do uso de água, seleção de materiais com bom desempenho ambiental e minimização do impacto ambiental causado pelo edifício contribuem e muito para a sustentabilidade. Mas como incluir as dimensões sócio-culturais?
Bom, devemos chegar a um enfoque ético, contribuindo através da Arquitetura, principalmente para a
igualdade social, preservação da Cultura e tradições locais,
acessibilidade e desenvolvimento local. Além disso, essa Arquitetura se preocupa com todo o ciclo de vida do edifício: desde onde vem o material empregado na construção, como esse material chega ao canteiro de obras, todo o processo da obra, até as atividades que devem acontecer dentro do edifício, posteriores à sua construção.
De maneira geral é uma recuperação do engenho popular, da união de técnicas vernáculas com o conhecimento científico. Isso não quer dizer retroceder e negar as tecnologias atuais, e sim relacionar aspectos globais e locais. Enfim é responder às metas e desafios do Desenvolvimento Sustentável através do Habitat humano.

Casa Alvorada (NORIE)
Fig. 9 - Maquete eletrônica
Fig. 10 – casa já construída
Protótipo Casa Alvorada idealizada pelo NORIE (Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação - UFRGS) - Habitação de interesse social, para ser reproduzida em larga escala para população de baixa renda. Baixo custo, uso de técnicas apropriadas, materiais da região, conforto ambiental, acessibilidade universal, adequação climática e aproveitamento de água de chuva são algumas das características sustentáveis dessa casa. (Fonte: Revista Téchne)
Que podemos concluir
Existem muitos conceitos de Arquitetura atualmente, mas não um único paradigma ideal e universal. A arquitetura e a construção devem atender as necessidades respondendo aos problemas próprios de cada lugar. Isso quer dizer que não dá para imaginar um mesmo edifício construído em Tóquio e em Manaus, com as mesmas estratégias de conforto ambiental, mesmas tecnologias e materiais empregados. Cada lugar tem seus valores culturais próprios, sua tecnologia própria, assim como problemas próprios a serem resolvidos.
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