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A divulgação do vencedor do concurso fechado para a construção da nova sede do MIS (Museu da Imagem e do Som) no Rio de Janeiro, mais uma vez fomentou a discussão quanto ao estilo do projeto. O impacto do edifício na paisagem da praia de Copacabana suscitou polêmica – assim como já havia acontecido com a Cidade da Música (Christian de Portzamparc) na Barra e o projeto cancelado do Guggenheim (Jean Nouvel) para o Píer Mauá.

MIS / Scofidio + Renfro / Rio de Janeiro 2009
Scofidio + Renfro (MIS) empregaram uma linguagem mundialmente consagrada há décadas - a
arquitetura contrastante com o entorno. Um dos primeiros a adotar esta postura foi o arquiteto italiano
Renzo Piano, em parceria com o americano
Richard Rogers, ao vencerem ainda muito jovens o concurso para o
Centre Georges Pompidou (
Beaubourg) em Paris nos anos 70. Sua concepção industrial com cores fortes inserido no coração do tradicional bairro
Le Marais chocou muita gente.
Porém, a
arquitetura monumental é importante para a cidade. Ela cria paradigmas, pontos de referências, marca épocas, vira símbolo, e, principalmente, provoca discussões que ajudam a formar opinião e cultura arquitetônica. Toda metrópole possui pelo menos um ícone contemporâneo - muitas vezes redefinindo seu status, colocando-a no mapa mundial, como foi o caso do Museu
Guggenheim em Bilbao do americano
Frank Gehry.
Nas obras de grande porte existem algumas linguagens predominantes utilizadas pelos arquitetos:
COMPLEXIDADE
O
de(s)construtivismo (estilo adotado no MIS e na cidade da Música do Rio) é uma das referências mais fortes na arquitetura mundial. Os austríacos
Coop Himmelblau (“Dachausbau” – Viena), ao lado de
Bernard Tschumi (Suiço) e
Peter Eisenman (EUA) foram os precursores do movimento na década de setenta. O duo
‘complexidade formal E executiva’ só foi viável com a utilização das tecnologias mais avançadas de programas computacionais. Além deles e de Gehry, os principais nomes da atualidade são o polonês
Daniel Libeskind (
Museu Judaico de Berlim) - que também participou do concurso do MIS -, a iraniana
Zaha Hadid (
Rosenthal Center of Contemporary Art – Cincinnati) e o escritório americano
Morphosis.

Cooper Union / Morphosis / Nova York 2008
O projeto do novo campus da
Cooper Union do
Morphosis é chocante em relação ao entorno – como se esperaria para uma escola de design – mas é contrabalançado pelo
envelope metálico semi-transparente da fachada que traz a paisagem para dentro do edifício.
SIMPLICIDADE
Levando ao extremo o conceito de “menos é mais” do alemão
Mies Van der Rohe, ícone do modernismo, o
minimalismo é uma linguagem baseada na
pureza das formas. Os
japoneses são mestres nessa arte e possuem nomes relevantes como
Tadao Ando (Igreja da Luz – Osaka),
Shigeru Ban (Pavilhão Japonês – Expo 2000),
Toyo Ito (Tod’s - Tóquio) e o escritório
SANAA.

New Museum of Contemporary Art / SANAA / Nova York 2007
O grupo SANAA utilizou o mesmo recurso das grades de alumínio na fachada do
New Museum of Contemporary Art, com um conceito oposto. Sua pele evoca uma pilha de caixas desencontradas numa composição misteriosa, que à noite chega a ser etérea. Este revestimento foi escolhido em função da vizinhança - lojas de
supplies para restaurantes – proporcionando um efeito sólido e industrial.
Mas o minimalismo já se propagou pelo mundo e muitos arquitetos ocidentais são defensores deste conceito. Destaque para os
Países Baixos, Nórdicos, Ibéricos e Sul-americanos.
SIMPLICIDADE + COMPLEXIDADE
Existe ainda uma linha intermediária, que vem ganhando força.
Formas de fácil compreensão, porém com uma
complexidade tecnológica e construtiva de última geração. Exemplos não nos faltam desde as olimpíadas de Pequim. O
“Cubo d’Água”, como ficou conhecido o estádio aquático de natação (escritório australiano
PTW), ou os suíços
Herzog & De Meuron (Estádio Olímpico
“Ninho de Pássaro” em Beijing, Estádio da Copa da Alemanha
“Alianz Arena” em Munique). Os projetos do inglês
Sir Norman Foster (Swiss Re Tower – Londres) são caracterizados como
High Techs, mas suas formas são altamente legíveis.
Talvez o mais vanguardista deste pensamento seja o holandês
Rem Koolhaas. Conhecido também como grande teórico, Koolhaas consegue antes de tudo ser
polêmico.

CCTV / Rem Koolhaas / Pequim 2008
O projeto do
OMA (escritório liderado por Rem Koolhaas) para nova
Sede da CCTV foi uma das primeiras torres a ser construída no novo Centro de Negócios (
CBD) de Beijing. Apesar da altura (230m), não é um arranha-céu tradicional - seu desenho contínuo cria uma espacialidade tridimensional, mais do que uma afirmação de verticalidade. A amarração por um
grid irregular representa os esforços distribuídos pela estrutura.
Contextualismo + Sustentabilidade
Apesar de tantas linguagens possíveis,
duas tendências são comuns a todas:
O grande paradigma da
arquitetura hoje é
Sustentabilidade. Este ideal tornou-se um pré-requisito para qualquer grande obra. Seja na execução, na economia de recursos dos equipamentos, no uso da edificação, ou mesmo no destino final de suas partes após a destruição. A preocupação com a diminuição do impacto da construção civil sobre o planeta é a principal meta estabelecida para o futuro desde a ECO 92.
Se analisarmos atentamente todos estes projetos, iremos reparar que buscam inspiração, fazem referência ao contexto, à cultura do país, aos materiais típicos da região ou pelo menos a um elemento marcante do local onde está inserida a edificação. É o que chamamos de
Contextualismo.
No projeto do MIS por exemplo, os arquitetos defenderam que a forma do museu foi concebida dando continuidade ao calçadão da praia de Copacabana - abstratamente, claro. Na Cidade da Música foi utilizado concreto (típico material da arquitetura brasileira) como padrão, além do edifício ser elevado em relação ao piso e mesclar curvas e retas, numa clara citação às características de nossa linguagem modernista.
Esta busca por um “gancho” virou rotina, tornando-se um artifício comum da globalização - justifica o projeto e contribui para uma leitura artística do espaço. Nos exemplos citados, quase sempre o arquiteto é de um país e a obra de outro. Este intercâmbio proveniente dos meios de comunicação e dos
concursos internacionais é essencial para o progresso arquitetônico.
Entre tantos criadores renomados existe um que consegue conjugar estes dois principais conceitos como ninguém. É um mestre no tema da sustentabilidade e é tão contextualista que não somos capazes de identificar facilmente sua obra tão diversificada.
Renzo Piano, já citado pelo projeto do Beaubourg, é um verdadeiro camaleão.

Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou / Renzo Piano / Nova Caledônia 1998.
No projeto de Renzo Piano para o Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou na Nova Caledônia, destacam-se a
sensibilidade ao ambiente natural, a capacidade de
diálogo social e o
respeito intelectual, que se propõem a compreender esta cultura, tão diversa da européia.
Uma reflexão sobre a
técnica construtiva e
cultura material da habitação Kanak conduziu o mestre a uma morfologia que nos remete às cabanas locais de madeira ripada, aliada ao respeito pela extensa vegetação e superfície líquida do Oceano Pacífico. Claramente o oposto do seu projeto no
Marais.
“A verdadeira universalidade na Arquitetura se realiza através do legado das raízes, a gratidão pelo passado e o respeito pela genealogia”, conclamou Renzo em 2005.
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